sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Paulo - Um homem aberto a novas realidades

Resumo do artigo do Pe. Wilson Augusto Costa Cabral,
em: http://www.cnbb.org.br

Chama a atenção em Paulo a forma como ele conseguiu mudar sua vida.
As mudanças foram uma constante em sua vida. É impressionante a forma como ele modificou o seu modo de agir e de pensar.
Como cidadão de Tarso, Paulo estava acostumado com o mundo urbano, com suas múltiplas realidades e possibilidades. Paulo soube adaptar a mensagem do Evangelho a esta nova realidade. Ele soube modificar a linguagem para que sua mensagem chegasse a um número maior de pessoas.
Em Atenas, de acordo com o relato de At 17, Paulo usou a linguagem filosófica. Foi uma tentativa frustrada. A partir de então ele modificou a sua linguagem, e decidiu anunciar Cristo crucificado, como loucura para os gregos e escândalo para os judeus (cf. 1Cor 1,23). Ele ia até às sinagogas. Se lá não houvesse acolhimento da sua mensagem ele dirigia-se aos pagãos (cf. At 18,5-11).
A linguagem para o anúncio de sua mensagem no mundo urbano respeitava a realidade do novo campo de missão. Em Corinto ele soube aproveitar os jogos olímpicos, comuns àquela cidade para falar de seu ministério e de sua dedicação ao Evangelho (cf. 1Cor 9,24-27).
Daí nossa necessidade hoje de também nós adaptarmos a nossa linguagem e postura diante de novas realidades. O testemunho de Paulo nos encoraja para viver bem nossa missão.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

«Para discernir o que mais convém» (Fil 1,10)

BITTASI, S., «“Per scegliere ciò che conta di più” (Fil 1,10). Il criterio cristologico dello scegliere nella lettera di san Paolo ai Filippesi», in Rassegna di Teologia XLVII, 6 (2006), pp. 831-849.

O artigo de Stefano Bittasi analisa o critério cristológico do escolher na Carta de são Paulo aos Filipenses.
O autor, retomando a tese de Cullmann[1], mostra como o verbo dokimazein (“discernimento”) seja a chave de toda a moral neotestamentária, enquanto «capacidade de tomar em todo e qualquer momento a decisão ética conforme ao Evangelho, coerentemente com o conhecimento do acontecimento da salvação».
Partindo da constatação de que o verbo em questão abarca em si, no grego, uma vasta gama de significados, o artigo centra-se no sentido com que são Paulo fala aos Filipenses, em Fil 1,10. Aqui, dokimazein aponta para o discernimento em ordem a uma escolha ética. Antes de entrar na análise desse versículo, Bittasi apresenta as outras passagens em que Paulo usa o verbo com o mesmo significado:
1Ts 5,21-22: «Examinai tudo (panta de dokimazete), guardai o que é bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal».
Rm 2,17-18: «Mas, se tu gostas que te chamem judeu, te apoias na Lei e te glorias de Deus, conheces a sua vontade e sabes, instruído pela Lei, o que há de melhor a fazer (dokimazeis ta diapheronta) […]».
Rm 12,2: «Não vos acomodeis a este mundo. Pelo contrário, deixai-vos transformar, adquirindo uma nova mentalidade, para poderdes discernir (eis to dokimazein) qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito».
O autor passa, agora, a analisar a passagem da Carta aos Filipenses: «E é por isso que eu rezo: para que o vosso amor aumente ainda mais e mais em sabedoria e toda a espécie de discernimento, para vos poderdes decidir pelo que mais convém (eis to dokimazein ta diapheronta), e assim sejais puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo, repletos do fruto da justiça, daquele que vem por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus».
É importante sublinhar o contexto em que Paulo escreve aos Filipenses. Bittasi, juntamente com outros autores, defende a tese segundo a Carta aos Filipenses seria a sua última Carta. Seria, então, quase um “testamento espiritual” do Apóstolo, prisioneiro em Roma e consciente de que está perto a sua morte. Paulo opera uma leitura do percurso de Jesus Cristo, do seu phronein, como exemplar do dar a própria vida / morrer do discípulo. Torna-se um critério de verificação do próprio discipulado. Não por acaso, o não querer andar por este caminho é definido como um ser inimigos da cruz de Cristo (cf. Fil 3,18). Toda a Epístola mostra como a situação existencial actual de Paulo não é mais do que a aplicação desse único modo de viver a fé cristã (cf. 2,3-8; 2,20-21; 2,30; 3, 7-11; 3, 18-20).
A raiz de qualquer comportamento ético encontra-se no phronein en Christo(i) Iesou (ou seja, a expressão de Fil 2,5: «Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus»), como verdadeiro “lugar” em que se opera aquele discernimento que nasce do amor e do conhecimento cristologicamente orientados, com a consciência de que tudo o resto é lixo (cf. Fil 3,7-11)!
Finalmente, analisando o processo dos Exercícios Espirituais de santo Inácio, o autor encontra um paralelismo com o discernimento espiritual de soa Paulo. Santo Inácio, ao propor o mesmo dinamismo que ele próprio viveu, retoma o itinerário que já foi de são Paulo. Na oração do Sume et suscipe da contemplação para alcançar o Amor (234) encontramos o ponto de chegada do inteiro caminho dos Exercícios: o poder orientar-se, na própria existência concreta, para escolher o que mais conta. E isto, individuado no dom total de si, por aquele que já não põe ao centro os próprios interesses, mas está disposto a dizer…tudo dispões segundo a tua vontade. Dá-me o teu amor e a tua graça, e só isto me basta. Conclui, portanto, o autor: «Como não reconhecer aqui o eco da oração de Paulo de Fil 1,9-11?».
Paolo Ciampoli

[1] Cf. O. CULLMANN, Cristo e il tempo, Il Mulino, Bologna, 1964.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Como foi a conversão de Paulo

Como foi a conversão de Paulo?

Notas sobre o artº de Ariel Alvarez Valdez, trad. de Lopes Morgado em Revª Bíblica nº 216, págs. 100-107,Maio/Junho de 2008

1- Queda sem cavalo e luz para a cegueira
Damasco distava 230 km de Jerusalém e Paulo para lá se dirigia, provavelmente a pé, não em cavalo como muitos quadros representativos assim o apresentam. Às portas de Damasco, uma poderosa luz o envolveu, bem como aos seus companheiros e lançou-o por terra . Então ouviu uma voz: “Saulo, Saulo, porque me persegues?” Ele respondeu. “Quem és tu Senhor?” Respondeu: “Eu sou Jesus a quem tu persegues. Ergue-te, entra na cidade e dir-te-ão o que tens a fazer”. Saulo, cego pela luz intensa que recebera, entrou em Damasco levado pelos companheiros e aí permaneceu, em casa de um tal Judas, sem comer nem beber durante três dias, até que um certo Ananias veio ao seu encontro e lhe disse: “Saulo meu irmão, foi o Senhor que me enviou, esse Jesus que te apareceu no caminho em que vinhas, para recuperares a vista e ficares cheio do Espírito Santo”, At, 9,17. Então impôs-lhe as mãos, caíram uma espécie de escamas dos seus olhos e recuperou a vista. Ananias, instruiu-o na doutrina cristã, explicou-lhe quem era Jesus, baptizou-o e introduziu-o na comunidade local. Paulo foi introduzido na Igreja que combatera até aí e que ele considerava como seita.
2-Conversão ou vocação?
Em primeiro lugar, Paulo nunca referiu a ninguém o que experimentou naquele dia a caminho de Damasco e diz ,em Gl, 1,15-17, “[…] aquele que me separou desde o seio materno e me chamou por sua graça, houve por bem revelar em mim o seu Filho, para que eu o evangelizasse entre os gentios e não consultei carne nem sangue nem subi a Jerusalém […]”.
Em segundo lugar, sem entrar em pormenores, não é claro nos At,9,3-4 que Paulo tenha visto Jesus mas apenas. “[…] viu-se envolvido numa intensa luz vinda do céu e ouviu uma voz” que lhe falava, mas ele é suficientemente explícito em 1ªCo, 9,1: “[…] não vi Jesus nosso Senhor?” E em 1ªCo, 15,8: “Em último lugar, apareceu-me também a mim”.
Em terceiro lugar, nas suas cartas, diz claramente que tanto a sua vocação como o evangelho que pregava o tinha recebido directamente de Deus, como em Gl, 1,11:
“Faço-vos saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado, não o conheci à maneira humana, pois eu não o recebi nem aprendi de homem algum, mas por uma revelação de Jesus Cristo “. Pelo contrário, os Actos, falam em Ananias como se disse no ponto 1.
3-“Lendas de Conversão” judaicas
No 2ºLivro dos Macabeus, capº 3, lido na última aula, fala-se em Heliodoro, ministro de Seleuco IV da Assíria, que ía saquear o tesouro do Templo de Jerusalém e caiu por terra em cegueira total, só recuperando a vista por interferência de um judeu piedoso, que o ajudou na sua conversão, recebendo a missão de anunciar em toda a parte a grandeza de Deus. Afirma, Ariel Alvarez Valdez:
“Existem muitas outras lendas judias que contam, do mesmo modo, a conversão de algum personagem inimigo de Deus. Por isso, não devemos considerar os pormenores da conversão de S. Paulo como históricos, mas antes, como género literário convencional”.
4- O evangelho “narrativo” de Lucas
O diálogo de “aparição” consta normalmente de quatro elementos, também referidos na aula:
a)-A dupla menção do nome da pessoa deste descritivo: Saulo, Saulo; Moisés, Moisés no episódio da sarça ardente, Ex,3,2-10; Abraão, Abraão no sacrifício de Isaac Gn,22,1-2; e Samuel, Samuel na sua vocação,1º Sm,3,4-14.
b)-A pergunta do personagem, “quem és tu Senhor?”
c)-A auto apresentação do Senhor: “Eu sou Jesus a quem tu persegues”.
d)-A ordem ou encargo: “Ergue-te e entra na cidade”.
Segundo Ariel Alvarez Valdez, “[…]Lucas quis dizer aos seus leitores que Paulo tinha conversado realmente com Jesus Cristo a caminho de Damasco e que não tinha sido mera alucinação, […]e que foi uma experiência inefável, impossível de contar com palavras”.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Quem é este homem?

Chamado pelo próprio Senhor, pelo Ressuscitado, a ser também ele um verdadeiro Apóstolo. Ele brilha como estrela de primeira grandeza na história da Igreja, e não só na Igreja das origens. São João Crisóstomo (Cf. Panegérico 7, 3), exalta-o até como personagem superior a muitos anjos e arcanjos. Dante Alighieri, na Divina Comédia, inspirando-se na narração de Lucas nos Actos dos Apóstolos (cf, 9, 15), define-o como «vaso de eleição» (cf. Inf. 2, 28), que significa instrumento escolhido por Deus. Outros chamaram-no o "décimo terceiro apóstolo" e realmente ele insiste muito em que é um verdadeiro Apóstolo, tendo sido chamado pelo Ressuscitado - ou até "o primeiro depois do único".

Bento XVI, Paulo o Apóstolo dos Gentios, Ed. Paulinas, 2008, pag. 17.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O "tempo" de Paulo


O “TEMPO” DE PAULO

Senti necessidade de ordenar as cartas de Paulo por ordem, não da sua extensão e importância das cidades (como fui encontrar na Bíblia dos Capuchinhos), mas pela sua ordem cronológica, o que me ajudou a melhor entender a evolução de Paulo em termos teológicos.
Começo por um mapa das suas viagens que nos permitem situar no tempo o seu percurso e relacionar as cartas com esse “caminho”, apesar de me parecer que este mapa tem várias lacunas, como por exemplo terminar com a vagem para Roma em 57, quando Paulo foi martirizado em Roma em 67. Por isso as datas que atribui às cartas podem não estar correctas. Peço que quem me souber corrigir o faça.
Além disso, como me descubro muito ignorante e cheia de dúvidas, se alguém puder responder aos meus pontos de interrogação, eu agradeço muito. São vários, espalhados pelo texto.




CARTAS DE PAULO

CRONOLOGIA
- ANOS 50/51: 1ª e 2ª aos Telassonicenses
- ANO 53: Gálatas
- ANOS 54/56: 1ª aos Coríntios
- ANOS 55: Romanos
- ANOS 57: Filipenses e 2º aos Coríntios
- ANOS 60: Efésios e Colossenses
- ANOS ?: Filémon
- ANOS ?: Tito
- ANOS 62: 1ª Timóteo
- ANOS 66: 2ª Timóteo
- Ano ?: Hebreus
Fica de fora a carta aos Hebreus. Se na Bíblia dos Capuchinhos a atribuem a Paulo, embora com algumas reticências, outros autores há que afirmam que se desconhece quem a escreveu e quando foi escrita. Porém como faz parte do conjunto das Cartas pastorais, escritas no fim da vida de Paulo, coloquei-a no fim da lista.


ORDENAMENTO/CLASSIFICAÇÃO
Ainda segundo o que li na Bíblia dos Capuchinhos, e de acrodo com o que já aprendi nas aulas, podemos “arrumar” as Cartas de Paulo em 4 grandes grupos:
1ª degrau da pregação de Paulo (ano 50)
o 1ª e 2ª aos Tessalonicenses
• foi o primeiro escrito cronologicamente falando, do N.T. O tema era a Parúsia
2º passo teológico / 4 grandes cartas (anos 53 a 55)
o Paulo aborda o problema da supremacia de Cristo sobre a Lai de Moisés nestas 4 cartas:
• Romanos
• Coríntios – 1ª e 2ª
• Gálatas
3º passo teológico / Cartas do cativeiro (ano 60)
o Cúpula da evolução teológica de Paulo. Abordam o Mistério de Cristo, imagem do Pai, Kyrios, Cristo Cósmico em quem tudo tem consistência. Nestas 4 cartas também é tratado o mistério da Igreja:
• Efésios
• Filipenses
• Colossences
• Filémon
Cartas pastorais (anos 62 a 66?)
o São 5 (4?) cartas escritas depois da 1ª prisão em Roma, num intervalo de 4 anos em que viajou pela Península e pela Ásia Menor. São 4/5 cartas escritas por um pastor aos seus pastores, no poente da vida:
• 1ª Timóteo
• 2ª Timóteo
• Filémon
• Hebreus
• Tito

PRISÕES DE PAULO
Segundo os Actos, Paulo foi preso 3 (4) vezes:
- No ano 50, em Filipos
- No ano 50/60 em Jerusalém e Cesareia
- No ano 61 / 63 / 67 em Roma: uma primeira vez de 61 a 63 e uma 2ª vez em 67

Já São Clemente de Roma fala em Paulo ter sido 7 vezes prisioneiro. Será que as 3 ou 4 vezes que faltam são as várias vezes que esteve preso em Roma?


Um blog é um espaço de interrogações, de dúvidas, de partilha. Espero ter alguma resposta a este meu texto cheio de interrogações.
Madalena Avillez


As Três Narrativas da Conversão de São Paulo


Act. 9, 1-9

Saulo, entretanto, respirando sempre ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, foi ter com o Sumo Sacerdote e pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, se encontrasse homens e mulheres que fossem desta Via, os trouxesse algemados para Jerusalém. Estava a caminho e já próximo de Damasco, quando se viu subitamente envolvido por uma intensa luz vinda do Céu. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: «Saulo, Saulo, porque me persegues?» Ele perguntou: «Quem és Tu, Senhor?» Respondeu: «Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Ergue-te, entra na cidade e dir-te-ão o que tens a fazer.» Os seus companheiros de viagem tinham-se detido, emudecidos, ouvindo a voz, mas sem verem ninguém. Saulo ergueu-se do chão, mas, embora tivesse os olhos abertos, não via nada. Foi necessário levá-lo pela mão e, assim, entrou em Damasco, onde passou três dias sem ver, sem comer nem beber.



Act. 22, 5-11

como o podem testemunhar o Sumo Sacerdote e todos os anciãos. Recebi até, da parte deles, cartas para os irmãos de Damasco, onde ia para prender os que lá se encontrassem e trazê-los agrilhoados a Jerusalém, a fim de serem castigados. Ia a caminho, e já próximo de Damasco, quando, por volta do meio dia, uma intensa luz, vinda do Céu, me rodeou com a sua claridade. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saulo, Saulo, porque me persegues?’ Respondi: ‘Quem és Tu, Senhor?’ Ele disse-me, então: ‘Eu sou Jesus de Nazaré, a quem tu persegues.’Os meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz de quem me falava. E prossegui: ‘Que hei-de fazer, Senhor?’ O Senhor respondeu-me: ‘Ergue-te, vai a Damasco, e lá te dirão o que se determinou que fizesses.’ Mas, como eu não via, devido ao brilho daquela luz, fui levado pela mão dos meus companheiros e cheguei a Damasco.



Act. 26, 9-18

Quanto a mim, julguei dever levantar grande oposição ao nome de Jesus de Nazaré. E foi precisamente o que fiz em Jerusalém: com o pleno assentimento dos sumos sacerdotes, meti na prisão grande número de santos e, quando eram mortos, eu dava o meu assentimento. Muitas vezes ia de sinagoga em sinagoga e obrigava-os a blasfemar, à força de torturas. Num excesso de fúria contra eles, perseguia-os até nas cidades estrangeiras. Foi assim que, indo para Damasco com poder e delegação dos sumos sacerdotes, vi no caminho, ó rei, uma luz vinda do céu, mais brilhante do que o Sol, que refulgia em volta de mim e dos que me acompanhavam. Caímos todos por terra e eu ouvi uma voz dizer-me em língua hebraica: ‘Saulo, Saulo, porque me persegues? É duro para ti recalcitrar contra o aguilhão.’ Perguntei: ‘Quem és tu, Senhor?’ E o Senhor respondeu: ‘Eu sou Jesus a quem tu persegues. Ergue-te e firma-te nos pés, pois para isto te apareci: para te constituir servo e testemunha do que acabas de ver e do que ainda te hei-de mostrar. Livrar-te-ei do povo e dos pagãos, aos quais vou enviar-te, para lhes abrires os olhos e fazê-los passar das trevas à luz, e da sujeição de Satanás para Deus. Alcançarão, assim, o perdão dos seus pecados e a parte que lhes cabe na herança, juntamente com os santificados pela fé em mim.’




Ps: sugestão para possíveis comentários: ver o que há de comum nas três narrativas =)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Quem é São Paulo?
A celebração dos dois mil anos do nascimento de Paulo de Tarso permitiu, para já, a publicação de muitas obras sobre ele.
Então quem é este Paulo? O verdadeiro Paulo é das cartas ou dos Actos? Ele é um autor grego ou judeu? Qual é o centro da sus teológico da sua justificação: a fé ou ser em Cristo?
Paulo é um autor desconhecido da Igreja, é um daqueles autores, não sendo neutro, que divida a humanidade, que é impossível ser-lhe indiferente, que representa um cristianismo no seu tempo minoritário, apaixonado e prisioneiro do Evangelho, personagem paradoxal, que habitou no contexto e na ruptura do Império Romano. Paulo é, até ao miolo, um Judeu, que a sua teologia é ser em Cristo, diz Albert Schweitzer, na sua obra A Mística do Apóstolo Paulo, 1930. E. P. SANDERS diz que no centro de Paulo está a categoria da participação e E. Käsemann valorizará a dimensão da teologia da libertação em Paulo.
Foi no tempo Grande II Guerra Mundial que foram publicados grandes livros sobre São Paulo e foi o tempo da recuperação do Judaísmo. Jacob Taubes, que se define como um Paulino não-cristão, vê e lê a teologia de Paulo como alguém que se contraria e revolta-se contra o Império, por isso Paulo é uma figura ideal, segundo Taubes, contra o nazismo. Encontra em Paulo os traços de uma revolucionária alteração dos valores em que o nosso mundo se funda. Paulo é marca da ruptura da Lei, afazendo-se afirmação da fé perante a Lei.
Um elemento do maior interesse é, hoje, a multiplicação e leituras sobre Paulo, por parte de algum pensamento contemporâneo. Se é verdade que, de Santo Agostinho a Lutero, de Kar Barth ao nosso Teixeira de Pascoaes, na teologia, na filosofia, nas expressões iconográficas ou na literatura, a pessoa e o pensamento de Paulo nunca deixaram dês ser referenciais, também é verdade que há algo de inédito na referência actual. Encontramos grandes autores interessados na figura de Paulo. Podemos dar exemplos destes autores: o filósofo Alain Badiou; Giorgio Agamben; Slavoj Žižek, que classifica o tempo actual como de «crença suspensa», pois a Fé passou a ser vista como um segredo pessoal e quase obsceno, do qual incorrecto falar. A pergunta feita por ele «és ou não um verdadeiro crente?», tornou-se mais do que nunca uma questão fundamental. A encarnação é a reviravolta da presença de Deus. É um dado monstruoso. Fascina-o em Paulo o cristianismo como ruptura, processo, tomada de posição. Há uma aproximação de estudiosos vindos do judaísmo, é o exemplo do acima citado, Jacob Taubes.
Dois mil anos depois nascimento de Paulo e da sua morte, ele permanece presente. Em Paulo há uma construção do cristianismo como modelo social.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Será o Paulo dos Actos "histórico"?


Estamos já habituados a um certo discurso sobre S. Paulo que afirma que o Apóstolo só é verdadeiramente retratado nas suas cartas (pelo menos naquelas consideradas autênticas), enquanto que o livro dos Actos dos Apóstolos apresenta um personagem fictício, construído pelo narrador. Não querendo aqui entrar em polémica sobre a verdade ou inverdade dos vários “retratos” paulinos no NT, parece-me interessante apresentar um ponto de vista que, sem negar as grandes diferenças entre as Cartas e os Actos, lança uma perspectiva que merece ser analisada. Mikeal C. Parsons, na obra Luke: Storyteller, Interpreter, Evangelist, pergunta sobre aquilo que cristãos já familiarizados com as cartas veriam na história lucana de Paulo. Na sua opinião, reconheceriam essencialmente o mesmo personagem, na medida em que aquelas forneceriam o “background” para a teologia de Lucas. Os Actos, expandindo algumas das referências crípticas de Paulo, demonstram que este é precisamente o que reclama para si em 1Cor 15,8-11:

«Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto.
É que eu sou o menor dos apóstolos, nem sou digno de ser chamado Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou e a graça que me foi concedida, não foi estéril. Pelo contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles: não eu, mas a graça de Deus que está comigo. Portanto, tanto eu como eles, assim é que pregamos e assim também acreditastes.»

É claro que, para chegar a esta conclusão, é necessário partir do pressuposto que Lucas conheceria o pensamento de Paulo, embora seja incerto qual o grau de familiaridade. Seria através de contacto pessoal? Ou de tradição oral? Ou ainda da leitura de alguma(s) carta(s) paulina(s)? Parsons é da opinião de que se deve excluir a segunda opção; de facto, há um paralelismo entre os Actos e as Epístolas no que concerne a convenções retóricas, ao papel e função dos milagres no ministério paulino, à compreensão do apostolado e a elementos teológicos essenciais para limitar o conhecimento da figura de Paulo, por parte de Lucas, a uma amorfa tradição oral. Se tomarmos como certa a primeira opção (contacto pessoal), então a conclusão óbvia é que o relato lucano retrata o Paulo “histórico”. O autor não considera esta posição particularmente digna de objecção, mas também não a toma como necessária, isto porque os leitores de Actos provavelmente só conheciam Paulo através das suas cartas e, portanto, os paralelos a estabelecer situam-se apenas num nível literário. Assim, os leitores de Actos reconheceriam nesta narrativa o mesmo Paulo que conheciam através da sua epistolografia, num retrato fiável, embora enriquecido e alargado, precisamente porque não esperariam que esta narrativa desenvolvesse o ministério da escrita de Paulo, mas sim que expandisse o personagem a outros aspectos do seu ministério, como os discursos e milagres, ressaltanto a sua semelhança com os outros apóstolos.
Para mais pormenores acerca dos paralelismos da construção de Paulo como personagem nas suas cartas e nos Actos dos Apóstolos, vide PARSONS, M.C., Luke: Storyteller, Interpreter, Evangelist, Massachusetts, Hendrickson, 2007, 129-139. Boas leituras…

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Artigos sobre S: Paulo

Artigos lidos sobre S. Paulo:
1-"S. Paulo teve revelações privadas?",de Ariel Alvarez Valdés, in Revista Bíblica, janº-fevº nº 320, pags. 9-13.
2-"De la casa a la ciudad:Critérios para compreender la relevância de las asambleas paulinas en 1ª Cor". de Carlos J. Gil Arbiol in Didaskália, Vol. XXXVIII,fascº. 1, de 2008 pags, 17-50.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009


à maneira de um mapa

UCP - FACULDADE DE TEOLOGIA
CURSO DE MESTRADO INTEGRADO EM TEOLOGIA
Época de Verão 2008/2009



ESCRITOS PAULINOS


O estado da arte
1.1. Por que se fala hoje da “reactivação de Paulo»?
1.2. O que há de novo nos estudos paulinos?
1.2. Questões em debate

Paulo de Tarso: ensaio de uma bio-grafia
2.1. A contas com heranças, datas e contextos2.2. A herança judaica de Paulo e o arranque da sua missão
2.3. Situar Paulo à sombra do Império
2.3. Detalhes da dicção Paulina (artes de dizer, modos de persuadir)
2.4. A retórica: construção e comunicação de um pensamento
Delimitação e conteúdo do “Corpus” Paulino

3.1. No “scriptorium” de Paulo
3.2. Especificidades do género epistolar
3.3. Classificação e forma das cartas paulinas3.4. Paulo maior do que Paulo: da tradição à formação de um “corpus” literário

A que chama Paulo «o meu Evangelho»?
4.1. As cartas aos Tessalonicenses, 1 e 2 Coríntios, Gálatas e Romanos
4.2. As cartas do cativeiro
4.3. As cartas pastorais
4.4. A construção do Evangelho de Paulo
4.5. Eixos maiores da Teologia Paulina


B i b l i o g r a f i a B á s i c a

G. F. HAWTHORNE – R. P. MARTIN – D. G. REID
1993 Dictionary of Paul and His Letters, Downers Grove, IL: InterVarsity Press.

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1996 Paul de Tarse, Paris: Cerf.

Alain BADIOU
1997 Saint Paul. La fondation de l’universalisme, Paris : PUF.

Juan Josè BARTOLOMÉ
1997 Pablo de Tarso. Una introducción a la vida y a la obra de un apóstol de Cristo, Madrid: Editorial CCS.

C.K. BARRETT
2003 On Paul. Aspects of his life, Work and Influence in the Early Church,
London – New York: T. & T. Clark.

Jurgen BECKER
1993 Paul: Apostle to the Gentiles, Louisville, KY: Westminster / John Knox.

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2004 Rabbi Paul. An Intellectual Biography, New York – London: Doubleday.

J. D. CROSSAN – J. L. REED
2006 En busca de Pablo. El Imperio de Roma y el Reino de Dios, Estella
(Navarra): Verbo Divino.

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1997 Studies in Paul: A Theology for Early Christian Mission, Minneapolis: Augsburg.

A. DETTWILER – J.-D. KAESTLI – D. MARGUERAT
2004 Paul, une théologie en construction, Genève : Labor et Fides.

James D.G. DUNN
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1944 Gnosis : la connaissance religieuse dans les Épitres de Saint Paul, Louvain : Nauwelaerts.

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1997 Paolo. L’apostolo delle genti, Milano: Paoline.

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1993 According to Paul: Studies in the Theology of the Apostle, New York: Paulist Press.
1996 Paul and His Theology: A Brief Sketch, New York: Prentice- Hall.

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2007 La figure de Paul dans les Actes des Apôtres, Paris : Cerf.

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1991 Paul and Hellenism, London: SCM Press.

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1983 The First Urban Christians: The Social World of the Apostle Paul, New Haven: Yale University Press.

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1968 Paul and Qumran, Chicago : The Priory Press.
1995 Paul the Letter-Writer: His World, His Options, His Skills, Collegeville, MN:
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2004 Histoire de Paul de Tarse. Le Voyageur du Christ, Paris: Cerf.
2006 Paolo e le donne, Assisi : Cittadella Editrice.

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1998 Il paradosso della croce. Saggi di teologia paolina, Casale Monferrato :
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Michel QUESNEL
2001 Paul et les commencements du christianisme, Paris: Desclée de Brouwer.

Chantal REYNIER
2005 Paul de Tarse en Méditerranée. Recherches autour de la navigation dans
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1977 Paul and Palestinian Judaism. A Comparison of Patterns of Religion,
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1984 Paul, the Law, and the Jewish People, Philadelphia: Fortress Press.

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2002 Jésus et Paul. Qui fut l’inventeur du christianisme?, Genève : Labor et Fides.

Jacob TAUBES
2006 La teología política de Pablo, Madrid: Trotta.

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1994 Paul’s Narrative Thought World, Louisville, KY: Westminster John Knox.
1999 The Paul Quest: The Renewed Search for the Jew of Tarsus, Downer’s Grove, IL: Intervarsity Press.

Tom WRIGHT
1997 What Saint Paul really said. Was Paul of Tarsus the real Founder of Christianity?, Oxford: Lion Publishing plc.


Atenção aos números monográficos que os seguintes periódicos dedicaram recentemente aos estudos de São Paulo:

Études Théologiques Religieuses, 2000/3
Recherches de Science Religieuse 2002 (90/3)
Didaskalia 2008/1


NB : Uma bibliografia específica será indicada em cada módulo temático


A v a l i a ç ã o

Participação no Blogue: www.horaspaulinas.blogspot.com 15%
Práticas de Leitura: 10%
Trabalho sobre um tópico paulino: 15%
Exame final: 60%